7.11.16

Bom senso americano (parte 2)

Olhando para estes valores, poderíamos concluir, de uma maneira quiçá primária, que a esquerda democrata é boa para os mercados e que a direita republicana traz bastante mais turbulência! Mas também podemos assinalar que os períodos eleitorais, principalmente quando a mudança de presidente é imperiosa, costumam ser tempos de incerteza e momentos para os investidores, talvez no uso do tal princípio da psique humana de que nada corre bem ou mal para sempre, forçarem viragens no ciclo económico! 

Não admira, portanto, que nesta altura, estejamos a passar por tanta turbulência nos mercados e que poucos dos mais experimentados tenham o mau senso de olhar para os números da economia e pensar que, pelo menos na América, esta está pujante e de boa saúde! É verdade que o PIB sobe 2,9% e o emprego é praticamente pleno, mas também em novembro de 2000 parecia que o bem estar económico nunca mais pararia de subir e que as empresas da Internet operariam um milagre de multiplicação da prosperidade. Nessa altura, tal como hoje, a FED estava na iminência de iniciar um ciclo de subida das taxas de juros para que não se desse um sobreaquecimento e muito poucos estavam à espera que as bolsas deixassem de subir só porque um novo presidente seria eleito! De modo idêntico, se bem que em sentido oposto, em novembro de 2009, tudo estava tão mal, e a confiança tinha caído tão fundo, que muito poucos deram credibilidade à subida nos dois meses anteriores às eleições.

Agora, em 2016, estamos na era das redes sociais e da Internet em todas as casas. Porém, a esperança de que a proliferação de informação acessível a todos de forma fácil e rápida contribuísse para um maior conhecimento e para decisões mais racionais esvaiu-se em pouquíssimo tempo. Em vez disso, o mundo tornou-se o palco dos larachentos, da opinião fácil e desinformada, do jornalismo barato e sempre no fio da navalha do sensacionalismo, e das teorias mirabolantes acerca de tudo e mais alguma coisa. Tudo o que sempre funcionou, afinal está mal e tem que ser mudado, o que nos faz sentir bem, afinal prejudica, o que é certo não pode estar mais errado, e o que hoje é verdade, amanhã virou mentira e depois de amanhã está outra vez certo. Para tudo há um espectro de opiniões que vai de menos a mais infinito e cada um de nós, se não se puser a pau, corre o risco de ensandecer com as infinitas possibilidades do relativismo!

Não admira, por conseguinte, que gente como os Le Pen, como Nigel Farage ou Boris Johnson, como Beppe Grillo, Sarah Palin ou Donald Trump, que há poucos anos seriam rejeitados liminarmente pela maioria habituada à informação assente na prática quotidiana, agora se afigurem plausíveis aos olhos daqueles que andam perdidos no oceano do pseudo bom senso relativo da era das redes sociais e do jornalismo de pacotilha! 

O que é que isto tem que ver com os mercados financeiros? 

Absolutamente tudo! 

À parte a situação agora se assemelhar de forma flagrante à que vivemos em 2000, e pese embora a história nunca se repetir exatamente da mesma forma, não deixa de ser um cenário com condicionalismo inéditos o que temos diante de nós. Nunca como agora a perspetiva de sermos servidos por governantes talhados à imagem e semelhança deste relativismo permanentemente em rotação se tornou tão forte. Acabou-se a era do debate racional e da troca de argumentos; foi-se a época do pensamento emotivo, mas que punha à frente de tudo o interesse da maioria, assente na aprendizagem ancestral e no acumular de experiência quotidiana. Na eleição de amanhã não estão em confronto diferentes formas de formatar a sociedade e contribuir para a prosperidade global, mas sim diferentes dosagens no experimentalismo com que se encaram situações pelas quais já passamos antes. E experimentalismo costuma soar a incerteza e, se a incerteza sobe para além do razoável, dizem os investidores mais tradicionais e sensatos, money is king!

Olhando para o S&P500, diria que entre hoje e amanhã terá que reagir em alta! É muito raro o índice estar sobrevendido (vejam o RSI) e não ressaltar, sendo que desta vez há ali a média móvel dos 200 dias (linha lilás) a servir de amparo! Uma vitória limpa de Hillary Clinton pode levar a um teste dos 2116 como resistência. Se Trump ganhar ou se não aceitar o resultado das eleições os índices de ansiedade vão subir em flecha e podemos até vir testar diretos os 2044 pontos, onde está a nossa linha vermelha. Se chegarmos a esse ponto, definitivamente, não vemos uma quebra em baixa à primeira e achamos que é provável o tal ressalto! Estamos bastante pessimistas (como quase toda a gente) e não nos parece que o índice volte a fechar acima dos 2116 tão cedo, sendo que mudamos outra vez para longo na quebra em alta da Ltd a vermelho, hoje nos 2141 pontos. Boa sorte para todos!


God bless America...

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