8.5.16

BCP

Haverá melhor ação para negociar na bolsa portuguesa do que o BCP? Não há, mas só se recomenda a quem tem tarecos de kevlar e coração de aço. Os outros devem abster-se porque o bandido dá e tira com uma velocidade tão grande que o mais provável é que acabem a enriquecer a conta bancária... de um psiquiatra. 

Os resultados trimestrais do banco foram apresentados na segunda-feira e, quanto a nós, o dado mais relevante é a baixíssima rentabilidade em Portugal: menos de 2 milhões de lucro! Com o estado de pré-guerra em Moçambique e o congelamento da ajuda internacional ao país por causa do caso da dívida escondida talvez seja de esperar uma descida do lucro em África (em Angola, o BCP entregou o controlo aos angolanos e é sensato não contar com dividendos por muito tempo), ao mesmo tempo que a unidade polaca continua a enfrentar sérios riscos por causa das medidas que vão brotando da cabeça dos governantes de Varsóvia. Como, em última instância, os valores costumam tender para uma situação de valorização justa, isto é, o preço das coisas acaba por coincidir com aquilo que elas realmente valem, e as empresas valem tanto mais quanto maior for o resultado líquido que obtenham ou possam vir a obter, não vemos nestes resultados sinais de que a trajetória de desvalorização do BCP possa ser invertida nos tempos mais próximos!

Porém, ninguém (ou quase ninguém) tem negociado BCP por acreditar que o banco possa valer mais e o negócio cresça, proporcionando dividendos generosos no futuro. Enquanto investimento, o BCP não serve e quem fez confusão vem pagando, com línguas de palmo, há muito tempo. Negoceia-se BCP como se deve negociar sempre em bolsa: compra-se na expetativa de vender mais caro, no mais curto espaço de tempo possível, e vende-se na expetativa de comprar mais barato. Compra-se quando há sinais de compra; vende-se quando há sinais de venda! C'est ça! E para isso, a menos que se desconte as chatices que dá, o BCP é generoso: tem volume, volatilidade e é dado a especulações.

O principal motor especulativo tem sido a concentração bancária e vamos continuar a assistir a movimentos nas cotações relacionados com notícias que têm que ver com fusões e aquisições.

Na quinta-feira, o ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro (JS), deu uma entrevista à Antena 1 em que sugeriu que o BCP poderia ser um dos próximos bancos a ser resgatado. No fim do dia, veio emendar e tal, mas as palavras já estavam no ar e não havia como lhes deitar a mão. Naturalmente, não sabemos o que vai na mente do bom do Salgueiro, e nem nos atrevemos a imaginar as informações privilegiadas de que dispõe, mas como apanhamos as palavras no ar e elas agora são nossas, reservamo-nos o direito de lhes dar a leitura que nos é permitida pelos nossos direitos constitucionais.

Evidentemente, não nos passa pela cabeça pensar que JS foi descuidado e muito menos que tenha sido néscio ou até que se tenha enganado. Ninguém é ministro das finanças e líder dos banqueiros se for um milésimo tão lorpa! Também ignoramos olimpicamente as declarações de substituição que fez a seguir: valem zero e ele sabe que sim! Por outro lado, estamos em crer que o mercado tomou devida nota da declarações feitas e vai dar-lhes o peso que merecem! Pensando um pouco, a leitura que fazemos das palavras que conseguimos apanhar é uma de duas:
  • O BCP precisa que lhe deitem uma mão, o mesmo é dizer precisa de um investidor de pulso que entre com capital fresco, de maneira a poder aumentar a rentabilidade potencial em Portugal. Ouro sobre azul era pagar o resto da ajuda estatal e abalançar-se ao Novo Banco (NB), criando um banco com dimensão suficiente para manter a banca privada portuguesa sob controlo dos banqueiros cá da paróquia. O problema é que há falta de gente disponível para acorrer ao peditório: os angolanos ganharam o galardão de persona non grata e estão debaixo do fogo do BCE, e todos falam dos espanhóis, mas estes andam escaldados com a América Latina e têm pouca vocação para a caridade. Negócio fraco e poucos interessados? Dizem as regras do mercado que o preço tem que baixar até despertar o apetite de potenciais compradores. A nossa teoria é que pode haver espanhóis interessados em participar num aumento de capital do BCP, mas não ao preço atual e podem estar em curso manobras para que o mercado interiorize a ideia de que vai ser necessário tornar a banca lusa mais atrativa. Aliás, depois da liquidação do BANIF, ninguém os pode censurar para só comprarem do lado de cá se for pechinchona. Que o diga o BPI!
  • A segunda teoria é um pouco mais sinistra e remete-nos para a ideia de que as palavras que apanhamos no ar, saídas diretamente da mente de JS, estariam na forma de um pensamento literal e mais não seriam do que a sementeira daquilo que ganhará forma nos próximos meses. Um resgate ao BCP (e à CGD e a outro banco mais pequeno), que implicaria certamente um segundo resgate a Portugal e a correspondente queda da geringonça, que abriria caminho a um governo de direita por muitos e longos anos. Uma declaração de efeito político, portanto!
Mas também pode ser que não seja nada disto e João Salgueiro esteja apenas preocupado!

Para acabar ainda temos tempo para meter o gráfico (antes de irmos sofrer em frente ao televisor). A nós nem para especular nos convencem a meter dinheiro neste frangalho, embora estejamos curiosos para perceber o que se vai passar na aproximação à zona dos 0,031! Boa sorte para todos!

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