29.11.15

Abengoa

Toda a energia que usamos na Terra veio originalmente (e continua a vir) de três sítios diferentes: do interior do planeta, da radiotividade natural e do Sol. Esqueçam as duas primeiras porque a estrela é, evidentemente, a fonte capital.


A energia é o ingrediente do universo que está na base do movimento, pelo que sem energia tudo se encontra em repouso. Quando falamos de movimento, não estamos só a pensar em  movimento macroscópico de coisas e objetos, mas também no movimento de átomos que na juventude da Terra tanto serigaitaram que, a páginas tantas, atinaram originar vida.


Os primeiros seres-vivos perceberam rapidamente que a energia solar, que nos chega sob a forma de luz visível e radiação infravermelha (calor), é um cabo dos trabalhos para ser transformada em movimento (energia cinética), porque o processo implica sempre um grande desperdício, isto é, tem um rendimento muito baixo. Felizmente, foram malta porreira e engendraram um processo, chamado fotossíntese, em que abdicavam de grande parte do movimento a que poderiam almejar, mas ficavam habilitados a sacar um módico de energia solar capaz de sustentar movimento atómico suficiente para tornar a vida uma realidade.


O movimento atómico criava moléculas cada vez mais complexas (como, por exemplo, a glucose) que armazenavam nas ligações entre os átomos grandes quantidades de energia solar sob a forma de energia química. Essas moléculas eram incorporadas na estrutura dos seres-vivos que rapidamente cresceram e vieram a dar nas diferentes espécies de plantas. Desta forma, cada planta acabou transformada numa verdadeira bomba de energia solar concentrada, sendo que a energia química das ligações podia ser novamente libertada de uma forma muito simples: misturando oxigénio e ativando uma reação de combustão.


Foi nesse mister que se especializaram os animais, ao inventarem a respiração, processo em que, ingerindo plantas (e, posteriormente, outros animais que tinham ingerido plantas), libertavam lentamente nas células, ao combinar os nutrientes com oxigénio, a energia solar que elas tinham acumulado. Com isso, evitaram a trabalheira de captar energia diretamente do Sol e os baixíssimos rendimentos associados a esse processo, conseguindo, com pouco trabalho, energia em tal quantidade que tornaram possível catapultar o movimento para um novo patamar: eles próprios ascenderam a seres-vivos móveis.


O baixíssimo rendimento associado a transformações que envolvessem a energia solar tinha sido contornado de forma hábil: em vez de irmos buscar energia diretamente ao Sol, íamo-la buscar a outros mais azarados do que nós, que a tinham acumulado antes de baterem a caçoleta e virem ter ao nosso prato.


No final, o aproveitamento de energia solar empacotada em seres-vivos que, basicamente, viveram para a empacotar, tornou-se tão eficiente que, normalmente, acabam por apenas sobrar as partes que apresentam rentabilidade nula ou negativa.


Por vezes contudo, sucede que haja quem morra e, por variadíssimas razões, não seja aproveitado imediatamente, acabando por ficar depositado sob estratos de solo isoladores. Se houver tempo suficiente (e é preciso muito tempo) e as condições ambientais forem as corretas, as ligações químicas que contêm a energia solar armazenada durante o tempo de vida vão sofrer transformações que levarão a uma maior concentração energética que acabará, consoante o meio ambiente, na formação de carvões ou hidrocarbonetos.


É isso que o petróleo é: energia solar velha de milhões de séculos, absorvida e armazenada por um qualquer ser-vivo, e enriquecida no subsolo por ação das formas naturais do meio-ambiente. Energia solar sob a forma de energia química e, portanto, incrivelmente mais versátil e com um rendimento de transformação muito superior. É essa energia solar superconcentrada que dá ao petróleo a capacidade de movimentar o mundo à velocidade que é exigida pelo Homem do século XXI.


O que hoje queremos fazer, preocupados que estamos com alterações climáticas que seguirão um curso que não depende de nós, é voltar ao início e aproveitar novamente, de forma direta, a energia solar. 


O problema é que a energia solar continua a ter o defeito que sempre teve: é dificílimo transformá-la em movimento (a corrente elétrica, p.e., é um movimento orientado de eletrões) sem que estejamos dispostos a assumir um rendimento muito baixo!


A gente da Abengoa sabia disso, os bancos que meteram lá dinheiro sabiam disso e os investidores tinham a obrigação de saber disso. Mas ninguém se importou porque, como sempre, todos encheram a mula e os últimos vão fechar a porta. Quando e se o petróleo estiver a 200 dólares o barril, aproveitar energia solar diretamente vai ser uma contingência e pode ser que o medo público das alterações climáticas venha a impor opções políticas que nos levem nesse sentido. Até lá, é bom que saibamos que a energia solar só é grátis aparentemente. E esse é um facto que até os organismos primitivos que existiram na Terra sabiam!

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