4.6.15

O gato e o rato (plano A do Syriza)

Joga-se nas altas esferas europeias o tradicional jogo do gato e do rato, onde pontuam vários gatos e ratos mais ou menos familiares. Os nomes dos dois ratos principais são bem conhecidos: Tsipras e Varoufakis. Mas se na Natureza é normal que os gatos acabem por sair vencedores (é a lei da Vida), a cultura popular acabou por inverter esta lógica (o caso do Tom and Jerry é bem esclarecedor), o que é bem caraterístico da natureza humana.



Neste jogo perigoso, a que todos vamos assistindo ao longe, com fortes potenciais implicações para todos nós, os ratos, como nos desenhos animados, estão claramente a dominar. Pessoalmente não acredito que haja mais de uma fação no Syriza ou que o governo grego tenha andado a ziguezaguear (mudança de Varoufakis como líder das negociações) desde que foram eleitos. Tendo em conta os acontecimentos destes últimos dias, e o que vem sendo dito, começo a acreditar que o Syriza vem seguindo um plano rigidamente traçado há muito, sem se desviar um milímetro dele.


Toda esta conversa com que o Tsipras e o Varoufakis têm vindo a entreter os outros líderes europeus é (como diz a maravilhosa expressão brasileira) “conversa para boi dormir”. Eles nunca quiseram, nem querem, um acordo com os termos que os europeus lhes querem impor. É mais do que evidente (e eu espero que os líderes europeus estejam a perceber isso) que toda a retórica com que nos têm brindado faz parte de uma estratégia bem montada: por um lado, dizendo que um acordo está sempre prestes para ser alcançado, ficam na fotografia como aqueles que sempre quiseram um acordo e se esforçaram por ele, ao contrário dos outros; por outro lado, a um nível mais subtil, é uma manobra para dar a entender ao povo grego que os seus governantes estão mais que habilitados para ludibriar os outros. E têm conseguido os seus intentos, já que a popularidade do Syriza não diminui na Grécia, nem a Nova Democracia aumenta a sua.


O Syriza tem um único trunfo, no entanto, na eficácia do qual acreditam piamente. Podem ter acreditado ao início que talvez não precisassem de o jogar, mas chegados a este este ponto, e o que se tem lido e ouvido nos últimos dois dias pode ser disso indiciador, parecem dispostos a jogá-lo. O trunfo é o (eventual) tumulto que um incumprimento grego pode causar nos mercados financeiros, com eventuais repercussões na integridade do euro e até da união europeia. O medo é o elemento chave no jogo. Vai ganhar o jogo que for mais capaz de dominar o medo, quem os “tiver mais no sítio”. Neste momento o jogo corre mais a favor da Europa, e parece claro, por isso, que o Syriza vai tentar um incumprimento (que pode ser já na amanhã). Jogado o trunfo é esperar para ver. Se o tumulto for grande (o que não acredito) esperam eles que os europeus estendam a mão para se salvarem todos, mas na realidade ganham os ratos a partida. Se não houver tumulto o jogo acabará rapidamente por xeque-mate.


É mais do que evidente que a Grécia nunca mais pagará a monstruosa dívida que tem. O Syriza quer, no entanto, que os gregos mantenham o nível de vida que experimentaram desde que aderiram ao euro, o que exige, agora, que alguém comparticipe o seu orçamento anual. Vamos a ver quem ganha e o que daí se segue.

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